NO FUNDO DO POÇO
"No Fundo do Poço"
Ano 1968 - A versão do rapto, dada pela Delegacia Especializada de Investigação Criminal, não custou a ser desmentida. Uma senhora que diziam sofrer das faculdades mentais, vizinha da familia, insistia sempre com os policiais de que Gislene devia ser procurada, no fundo de um poço que ficava a cem metros da casa de seus pais.
Ninguém levava a sério essa opinião, mesmo porque uma das primeiras providências da polícia tinha sido a de investigar o poço, sem encontrar nada. Na verdade, aquela busca fora feita às pressas. No fundo do poço haviam lama e detritos e talvez o corpo de Gislene estivesse ali. Quem acreditou nessa hipótese foi o investigador Hélio Teixeira. Ele convenceu o delegado Omar Cassim, que solicitou um carro limpa-fossas e foi com sua equipe à Rua A do Jardim Botucatu - Sacomã /SP, onde a menina costumava brincar.
Os policiais tinham mesmo pavor de achar lá dentro o corpo, "porque era preferível o rapto e a chance de Gislene ser recapturada com vida". O Corpo de Bombeiros começou a vasculhar o fundo do poço, um cabo drenou os detritos. Lá de baixo veio uma voz: "Achamos esses cabelos. São de criança".
"O bombeiro Davi Parejo trabalhava à vista dos colegas e da multidão que ladeiavam a borda da fossa, Crescia a expectativa. Davi toca alguma coisa no meio do lamaçal, mas o cheiro era muito forte e ele foi içado para fora".
Era um corpo sólido, mas não sei se é de gente. Poderia ser um animal." O bombeiro desce de novo. Ao voltar, traz na mão um pedaço de pano: branco, com flores pintadas de vermelho. Logo depois, ele grita:
"Tinha chupeta, a menina?"
Mostra a todos a chupeta e outro pedaço do vestido. A multidão rompe o cordão de isolamento. O pai de Gislene está por perto, apesar da proibição da polícia, que quer vê-lo em casa. Ele chora e grita: "É ela, é ela."
JOSÉ VAI AO QUARTO E PEGA A TESOURA
A drenagem prossegue. Agora surgem no fundo duas mãos inchadas, os braços estendidos como se fizessem um apelo. A menina estava sentada, na posição de quem segurava uma boneca. Estava presa sob uma laje. Os bombeiros retiraram a laje e o corpo era içado. Crianças se aproximam para ver, a policia não deixa. Gislene tem as orelhas comidas, a ponta dos dedos também. Na barriga um longo traço vermelho, em vertical.
Um carro da policia técnica aparece para levar o corpo ao Instituto Médico-Legal. D. Luisa e seu José recebem em casa a notícia. Ela se revolta contra aqueles que juraram ter visto sua filha viva. Seu José sai da cozinha e se dirige para o quarto. Ali, pega uma tesoura e tenta enfiá-la na garganta. Um repórter evita o suicidio com uma chave-de-braço. Alheia a tudo, Sueli, a irmã um ano mais moça de Gislene, brinca com um guardanapo, enquanto sua mãe diz aos prantos que "ela era tão bonitinha, tão bonitinha".
A autópsia confirmou o acidente. Mas o delegado Omar Cassim não deu o caso por encerrado. Ouvirá outra vez os suspeitos. O fato é que existem detalhes obscuros na história. Horas antes do desaparecimento de Gislene, um caminhão da Heliogás havia destruido a laje da fossa. Assim, como o corpo apareceu preso debaixo da laje, e não por cima, se Gislene deveria ter caido sobre ela?
Policiais e bombeiros habituados a examinar cadáveres também asseguravam que "dentro de uma fossa cheia de detrito e durante treze dias, o corpo de Gislene deveria estar muito mais decomposto". Ferimentos no cadáver indicavam ainda a hipótese da menina ter sido arremessada à fossa. Na verdade, Gislene foi encontrada morta, mas a tese de assassinato continuava de pé.
Texto de LUIS CARLOS LEAL SEBASTIÃO AGUIAR Fotos de JOSE CASTRO
Pesquisador: Eduardo Marques de Magalhaes
Publicado: Revista Fatos e Fotos - Ano 1968/Edição 00366.
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