TRAGÉDIA DO CLUB 28
13/06/1953 - O tenente Clóvis de Melo, chefe da guarnição do Corpo de Bombeiros, encarregada de dar combate ao fogo, disse que atendendo a um chamado normal de socorro, dirigiu-se com uma guarnição para o estabelecimento comercial Sociedade Anônima Votex, onde as chamas ameaçavam perigosamente um prédio de dois andares, com fundo de 80 metros, confinando com outro, que dava para a rua Anhangabaú.
Sem despertar a curiosidade dos que dançavam no pavimento superior, procurou localizar e circunscrever o fogo. Entretanto ao ser aberta a porta da S.A. Votex que dava para a rua Florencio de Abreu, grossos rolos de fumaça sairam daquele estabelecimento, invadindo o salão de festas pelas janelas e pela porta, provocando pânico e alarido infernal entre as 500 pessoas que ali se encontravam. Adiantou o tenente Clóvis, que havia tempo bastante para que todos abandonassem o salão de baile, se houvesse a calma necessária. A prova é que o fogo, somente atingiu o clube, uma hora depois, isto é, a 1 hora e meia da madrugada.
Em estado de pânico, indominavel a multidão atirou-se em direção a escada, procurando fugir. Foi um choque tremendo o que se verificou na velha e estreita escada para a qual todo o mundo convergia na ancia de escapar de morrer queimado.
A cabina para a venda de ingressos foi desmontada e arrastados os seus destroços para a descida. Os que desciam em primeiro lugar foram alcançados e pisados pelos que vinham atrás, até que a entrada ficou fechada pelos cadáveres e feridos, enquanto atrás daquela tétrica barreira outras dezenas de pessoas encontravam a morte, esmagadas e asfixiadas pelo tremendo esforço que todos faziam para alcançar a porta. Os bombeiros dirigiram jatos d'água visando dominar o pânico e evitar que continuassem a se aglomerar na escada.
O Cabo do Corpo de Bombeiros, "Antônio Duarte de Andrade Amaral", que procurava salvar os que se encontravam por baixo na mole humana, foi segurado por várias mãos, que buscavam um ponto de apoio para salvar-se do esmagamento, foi arrebatado para a barreira e esmagado.
O mesmo aconteceu ao Agente de Polícia "Armando dos Santos", conhecido por "Camarão". O Tenente Clóvis do Corpo de Bombeiros, ia encontrando a morte em idênticas condições, escapando de ser tragado pela barreira devido a intervenção de um Sargento que o puxou com risco da própria vida.
Episódios dos mais comoventes foi o vivido por um dos bravos bombeiros que encontrou no local o próprio filho. Conduzia ele para fora do prédio várias pessoas quando, de repente, teve sua atenção voltada para um dos cantos do edifício e ali viu seu filho. O bombeiro ficou perplexo e permaneceu imóvel durante alguns segundos. Depois, chorando convulsivamente lançou-se sobre o jovem, que jazia sem vida. Aos prantos, tombou o corpo do rapaz sobre os braços e beijou-o demoradamente, colocando-o após com carinho entre os demais mortos, para voltar em seguida ao trabalho de salvamento das demais vítimas.
Está atitude do bombeiro arrancou lágrimas de quantos presenciavam a cena.
Os bombeiros levaram a cabo o trabalho de salvamento, dos frequentadores do Clube, retirando-os pelas janelas e por meio das escadas. Em primeiro lugar foram retiradas as mulheres e depois os homens. Enquanto isso na entrada do prédio, começaram a retirada dos feridos e cadáveres.
Os feridos eram recolhidos as ambulâncias do Pronto Socorro, Hospital das Clínicas, Hospital Santa Inês e de outras entidades que prestavam colaboração.
Os mortos foram alinhados no passeio. Não havia dúvidas sobre a causa da morte. Haviam morrido por asfixia, esmagados e pisados. Assistiu a multidão que acorreu ao local a uma cena verdadeiramente trágica. Uma mulher, desvairada pelo pânico, em pé sobre a janela, hesitava em se atirar na lona que os bombeiros embaixo seguravam para aparar os que se arremessavam a rua.
Por fim jogou-se. Seu pé escorregou, caindo ela sobre fios elétricos. O corpo foi se desbaraçando despencando-se sobre as labaredas que tomavam a porta do prédio. Os bombeiros nada puderam fazer para socorre-la. Quando a retiraram, era cadáver. Tratava-se de uma jovem de cor parda de 24 anos presumiveis.
Descendo pelas escadas estendidas até às janelas, pela escada, em chamas ou atirando-se a rua, escaparam os últimos frequentadores do "Clube 28", cujos gritos de angústia comoviam a todos que se achavam nas proximidades.
Os bombeiros atacaram as chamas com a água de carros-tanques e ainda pela manhã faziam o serviço de rescaldo, removendo os entulhos a procura de alguma possível vítima. Não retiraram nenhum outro corpo depois de removidas as vítimas da escada do prédio.
Parte do salão de danças ruiu, durante o incêndio, bem como o teto. Numerosos sapatos e outros objetos foram encontrados e arrecadados pela polícia no salão de baile.
O Cabo Antônio Duarte do Amaral, era casado, deixou dois filhos e foi sepultado no Cemitério da Quarta Parada, além de altas autoridades civis e militares, compareceram ao sepultamento centenas de militares, principalmente colegas seus de Corporação.
Cenas chocantes verificaram-se a saída do caixão do Quartel da 1.a Zona do Corpo de Bombeiros, quer por parte de membros da sua família, como também de seus colegas de farda, o mesmo se verificando no momento em que o caixão baixou a sepultura.
O trabalho dos bombeiros durante o sinistro do Clube 28 de Setembro foi sumamente árduo e digno dos maiores elogios. Mais uma vez lutaram, eles com denodo, não medindo esforços para salvar as vidas que, naquela hora, estavam sob a sua proteção.
Pesquisador: Sgt Eduardo Marques de Magalhães
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